quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sopa de Maria

Depois do parto, cansada, ela tomou o caldo.
E sentiu uma ternura enorme pelo marido.....


Maria debulhava as favas, como sempre atenta e distraída, quando de repente aquela dor, uma faca mergulhava nas vísceras. Largou tudo na bacia, curvou-se sobre si mesma. Ai.
Passou. De repente passou; Chamou José e lhe contou que era chegada a hora do Anjo.
A fuga, com a barriga grande, os pés inchados, dores, se não fosse José não conseguiria.
Queria ficar sozinha na escuridão da gruta.
Um galo cantou lá fora, esganiçado, o canto rompendo a névoa e rasgando seu corpo.
Foi então que sentiu a cabecinha do menino entre suas pernas. Quis protegê-lo, mas num momento a criança já estava ao seu lado, quente, e riu baixinho.
Bebeu a água que trouxeram, com sede, em grandes goles, deixou escorrer pelo rosto, pescoço, beijou o menino com a boca molhada, passou a mão, depois para secar o rostinho.
O bom seria não pensar em nada, mas anjos rodavam sua cabeça, anjos que lhe anunciara a vinda do menino Jesus. Suspirou.
Foi tomando o caldo devagarinho e sentiu uma ternura enorme pelo marido. Ah, como a sustentara, e estremeceu, estonteada, a lembrança clara da Anunciação.
Caíra de joelhos, cheia de força, plena.
Era preciso beber a sopa até fim.
Sabia que tinha que manter forte,
Ela, ali, meio deitada meio sentada, num estábulo, os animais, o cheiro de estrume o chão manchado de sangue, do seu sangue e o da galinha que alguém matara para fazer o caldo.
E ali que se cozinhava o Grande Milagre???!!

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